Em um posto de combustíveis da Avenida Laranjeiras, em Limeira (SP), o cliente para o carro para abastecer e ganha de brinde o afago de cães que se esparramam pelo piso do estabelecimento nos dias de calor. Mais ao fundo, em uma área coberta, é possível enxergar as casinhas da família de quatro patas, formada por Toddy, Patricia e Valéria.
Cachorros de rua, eles ganharam um lar no posto. Clientes e comerciantes das imediações ajudam com petiscos, comida e outros regalos para os xodós.
Tudo começou com Toddy, de pelagem marrom, por quem a frentista Carol Simas disse que nutriu “amor à primeira vista”.
“Há quase quatro anos ele apareceu no posto bem tristinho, bem com a carinha de quem foi abandonado mesmo. Ele já era um cão adulto. Quando ele apareceu, tentei procurar o dono, um novo tutor, e não conseguimos, e ele foi ficando, a gente ofereceu comida, água, o amor e o carinho, lógico”, conta.
Arisco, o cachorro demorou a criar confiança, mas logo foi se sentindo em casa. Então, veio a história de amor. Não envolve uma cadela de família rica, como na fábula “A Dama e o Vagabundo”, mas Patricia tinha uma casa. Morava em uma funilaria vizinha ao posto.
“Eles se apaixonaram e a Patrícia deu duas crias lá no posto. Levei para a doação e consegui um final feliz para os filhotinhos, só que eles [Toddy e Patricia] foram ficando no posto por conta de serem bem tratados. E também tem a filhotinha, a filha deles, a Valéria”, explica a frentista.
Então, os três estabeleceram “domicílio” no comércio. E a solidariedade foi a chave para a criação dos animais. Carol conseguiu castração de todos, gratuitamente, em uma clínica próxima.
“Clientes, funcionários e inclusive os donos do posto ajudam com a ração e os cuidados que eles precisam. A ideia das casinhas surgiu agora, na nova administração do posto”, lembra.
Ela não esconde que tinha receio de que com a troca de donos, os cães pudessem ser expulsos do novo “lar”.
“Eu tinha medo de que eles [donos] não fossem aceitar os cachorros lá, por conta de ter um pouco de transtornos. Eles correm atrás de bicicleta, de criança. Mas eles [donos] apoiam a causa animal, principalmente os abandonados, e ela falou: ‘Carol, vamos colocar as casinhas aqui e deixar eles aqui tranquilos, vivendo uma vida boa’”, conta.
Os presentes dados por clientes e vizinhos vão de petiscos a roupinhas. “Agora no inverno eles precisam, mas na verdade ele perdem também. Eles saem dar as voltinhas deles e perdem [risos]”.
Até a marmita é garantida. “Tem uma mulher que passa todo dia. Ela faz a comida dela e leva uma marmitinha pra eles também. A comida fresquinha, gostosa, cheirosa. Tem uma moça também que tem uma papelaria na mesma avenida que é apaixonada por eles. Ela também deixa na frente da papelaria um potinho de ração e um de água”, revela Carol.
Hoje, há clientes que Toddy, Patricia e Valéria já reconhecem de primeira. “Todo mundo que para lá eles são os que chamam atenção, principalmente criança. Fica todo mundo olhando e parabenizando pelo cuidado. Eu vou atender o carro e eles estão em volta do carro”, diz a frentista.
‘Central de Desaparecidos’
E o carinho pelos animais não se limita ao trio de inquilinos. Carol conta que já ajudou a encontrar alguns tutores de cães perdidos que apareceram no posto.
“Mas, agora, como o Toddy e a Patricia se sentem os donos do território, então fica complicado, não se aproxima mais nenhum outro cachorro. Eles comandam tudo ali. É bem engraçado”, explica.
Os três assumiram de tal forma a condição de “seguranças” do local que até fazem guarda à noite, ajudando na segurança do frentista deste turno, segundo Carol.
“O moço que trabalha na madrugada fala que eles estão sempre em alerta, e quando tem qualquer movimento, pessoa estranha, eles protegem mesmo. Além de tudo, eles são protetores”, afirma.
E ela já avisa: quem passar pela avenida pode flagrá-la brincando como se fosse uma criança com seus filhos peludos.
“Se passar lá na frente eu to brincando, to correndo. Não tem preço. Realmente não tem preço. O sorriso das pessoas quando veem, quando veem as casinhas lá é gratificante, realmente. Mas nós fazemos muito de coração”, garante.
Por Rodrigo Pereira, G1 Piracicaba e Região
Fonte: G1( foto: arquivo pessoal )